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Fake News

Crescimento da desinformação sobre vacina gera alerta sobre combate às fake news

Redes sociais devem ampliar combate à propagação de desinformação

Publicado em 09/10/2020 às 23:19

Enquanto a ciência tenta encontrar uma vacina segura capaz de imunizar a população contra o novo coronavírus (Sars-CoV-2), a desinformação sobre o processo aumenta nas redes sociais. Análise da União Pró-Vacina, da USP de Ribeirão Preto (SP), aponta que um vídeo com afirmações falsas sobre vacinas em testes foi o conteúdo com mais engajamento sobre o tema no Facebook em setembro.

O vídeo, postado originalmente no YouTube, foi compartilhado no Facebook principalmente por duas páginas. Para a análise, o grupo da USP somou os dados dos posts e percebeu que receberam, juntos, 113,3 mil reações, 79,7 mil compartilhamentos e 38,9 mil comentários.

Um dos temas do vídeo é a afirmação de que a vacina de mRNA intervém no material genético do paciente que receber a dose, assunto que aparece de forma semelhante em outras mensagens checadas pelo #FATO ou #FAKE no início de setembro. De acordo com a apuração, a sequência genética humana não é afetada pela técnica da vacina.

Para analisar o engajamento dos posts no Facebook, o grupo da USP utiliza uma ferramenta que rastreia o link das matérias. Então, considera qualquer página, pessoa ou grupo que postou o link. Dentre os 10 conteúdos com mais engajamento em setembro, nove são de matérias jornalísticas que, somadas, superam o alcance da desinformação que encabeça a lista. Leia a análise completa aqui.

Em outro estudo recente, a União Pró-vacina registrou, entre maio e julho, aumento de 383% nas publicações de conteúdos falsos sobre vacina para Covid-19 nos dois grupos públicos sobre antivacina com mais usuários no Facebook.


A nova avaliação é de que as fake news sobre o tema extrapolaram qualquer parâmetro de alcance das publicações que ficam restritas aos dois grupos que, juntos, somam 21 mil seguidores. 

Para o analista de comunicação do Instituto Avançado da USP de Ribeirão Preto e criador da união, João Henrique Rafael Junior, as plataformas precisam melhorar o combate às fake news.

"As medidas aparentes nas plataformas são mais paliativas do que assertivas, então quando o nível de pressão fica muito grande, eles soltam alguma coisa, mas quando você olha o histórico de março para cá, não estão sendo efetivas, porque a informação continua circulando e continua tendo engajamento maior do que informações verídicas, por isso que nossa batalha é muito assimétrica".

"Para cada passo que a ciência dá no seu tempo, porque precisa ter pesquisa, precisa ter respaldo, existe uma marcha da desinformação. Acaba sendo uma batalha bem injusta", afirma.

O analista afirma que as plataformas se colocam como um meio, e que a responsabilidade dos conteúdos é dos usuários. No entanto, estabelecem critérios de marcação dos posts como falsos e até de remoção de publicações que tenham imediato risco à saúde.

Em nota, o Facebook afirma que remove conteúdos sobre a Covid-19 que podem pôr em risco a integridade física das pessoas, "como falsas promessas de cura ou alegações de que o vírus não existe". Segundo a plataforma, de abril a junho, foram removidos mais de sete milhões de posts com esse tipo de conteúdo em mundo todo.


"Também trabalhamos com agências de checagem na verificação de fatos. Quando um post é marcado como falso, menos pessoas têm acesso ao conteúdo", afirma o Facebook.

Rafael Junior argumenta que a marcação pode demorar a ser feita e perder o timing das publicações, que perdem o engajamento com o passar do tempo. "A capacidade e principalmente o 'timing' dessas plataformas de agirem e de marcarem esses conteúdos como falsos é um grande problema".

O Facebook envia avisos aos usuários que compartilharam uma publicação marcada como falsa posteriormente.

Já o YouTube afirmou que possui políticas sobre o tipo de conteúdo que pode estar na plataforma e não permite vídeos que promovam desinformação sobre o Covid-19. o vídeo apontado pela análise da USP foi desmonetizado.

"Desde o início de fevereiro, analisamos e removemos manualmente centenas de milhares de vídeos relacionados a afirmações perigosas ou enganosas sobre o vírus. É nossa prioridade fornecer informações aos usuários de maneira responsável, por isso continuaremos com a remoção rápida de vídeos que violem nossas políticas. Além disso, qualquer usuário que acredite ter encontrado um conteúdo no YouTube em desacordo com as diretrizes da nossa comunidade pode fazer uma denúncia e nossa equipe fará a análise do material", informou, em nota.

Cortar financiamento

Pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade de Campinas (Unicamp), Rafael de Almeida Evangelista estuda, há cerca de dois anos , grupos de WhatsApp para entender a divulgação da desinformação.

De lá para cá, passou por cerca de 20 grupos e acompanha, simultaneamente, cinco. A pesquisa etnográfica de Evangelista, que é doutor em Antropologia Social pela Unicamp, aponta para uma trama de interesses que não foi criada para sustentar as fake news, mas acaba por favorecê-las.

"Nesse ecossistema de espalhadores, produtores e plataformas, você precisa combater os estímulos financeiros que as plataformas têm dado para as fake news. Se você olha os canais de YouTube que produzem fake news, vários deles vão ter um 'troféuzinho' de ter conseguido não sei quantos milhões de acessos, ou não sei quantos milhões de assinantes do canal".

Mais do que apostar em "educação midiática", o pesquisador acredita que a forma de reduzir os impactos gerados pela desinformação na sociedade é atacar o rendimento financeiro. Além disso, argumenta que "a relação entre falta de educação formal e acreditar em desinformação não é direta, você vai ter gente muito bem formada, de classe social alta, acreditando em teorias da conspiração".

"Eu acho que dá para gente abordar sem afetar a liberdade de expressão e organização está em retirar os estímulos econômicos que as plataformas têm dado para a produção de desinformação. Não é que elas estão estimulando a desinformação, elas estimulam a produção midiática de uma maneira agnóstica, tanto faz se é verdade ou mentira".

O WhatsApp

Em nota, o WhatsApp afirma que tem restringido o compartilhamento de conteúdos, reforçando as características de aplicativo de mensagens privadas. "Desde abril, por exemplo, mensagens no WhatsApp que foram encaminhadas mais de cinco vezes agora só podem ser direcionadas para uma única conversa por vez. Essa mudança levou a uma redução global, também observada no Brasil, de 70% no número de mensagens frequentemente encaminhadas pelo aplicativo".


"Em agosto, o WhatsApp lançou, em parceria com o Google, uma ferramenta que permite verificar na internet o conteúdo das mensagens frequentemente encaminhadas por meio do aplicativo. O recurso substitui o botão de encaminhamento por uma lupa, pela qual usuários podem escolher copiar a mensagem no navegador de internet para buscar mais referências, sem que o WhatsApp veja o conteúdo da mensagem.

Em outra frente de trabalho, o WhatsApp tem ampliado esforços para combater o envio de mensagens em massa e a criação de contas ou grupos de maneira automatizada, atividades proibidas pelas regras do serviço. A plataforma conta com sistemas para identificar esse tipo de comportamento e bane cerca de 2 milhões de contas no mundo todos os meses. Em dezembro de 2019, após sugestão apresentada pelo WhatsApp, o TSE aprovou regulamentação proibindo o disparo de mensagens em massa por meio eletrônico nas eleições municipais deste ano. Ainda nesse tema, o WhatsApp tem atuado judicialmente contra empresas de serviços de disparos massivos de mensagens.

As ações acima se somam a uma série de iniciativas que implementamos ao longo dos anos para evitar o uso abusivo de nossas plataformas, e sabemos que isso é especialmente importante em períodos eleitorais. Seguiremos vigilantes para proteger nossos serviços durante as eleições no Brasil e no mundo."

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