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Armas

Como seria 2020 se todo 'cidadão de bem' tivesse se armado no último ano?

Já que ninguém me perguntou, resolvi mandar esse papo. Eu posso atravessar tudo, podem por mim e comigo. Sou objeto que ostenta, dou poder.

Publicado em 01/01/2020 às 08:20

Já que ninguém me perguntou, resolvi mandar esse papo. Eu posso atravessar tudo, podem por mim e comigo. Sou objeto que ostenta, dou poder.

Posso ser do gênero que você quiser, veja só, e da cor também. Eu brilho e minha presença reluz, paradinha, num casamento perfeito com o sol que queima a pele. É difícil você pensar que não me quer, apesar de não querer parecer alguém que cometa alguns errinhos por aí.

Mas fazer o que, né? A vida tem dessas, ou você escolhe as boas companhias ou escolhe as más. Eu mesmo me autointitulo um ''mal necessário''. Sempre estive com esse peso, e hoje não é diferente. Aqui no país, igual a mim, quase 37,3 mil. Só aqui no Rio, já hospedei munições fabricadas na China, nos EUA, na Rússia e até na Bósnia.

Tem umas até que foram criadas para o uso durante a Guerra Fria. E olha que só foi em 2019, agora imagine em 2020? Vou descer rasgando tão forte e rápido que vai ter muita gente que se acostumará a me escutar. Aliás: tem uma galera que já consegue me decifrar em meio à desordem das coisas — os moradores de favela. Aconteça o que for, esteja nas mãos em que eu estiver, são eles que vivem diariamente comigo.

Eles sabem de minha força, sabem registrar meu passo e compasso. Chego mais rápido a esses locais, e por meios dos quais geral duvida. Mas eu não sou cria dali, apenas chego.

E através de um sistema barato e prático para muitos, acabo disputando o protagonismo com outas questões. Não soluciono, mas é justamente onde há mais problemas que sou mais usada.

E se em 2019 eu já havia sido frequente companheira, ajudando a mirar em alguns, pode ter certeza que vou fazer mais. A culpa não é minha parceira. Estou a serviço dos outros, e não venha imputar em mim a culpa pela morte de uma criança de oito, confundindo uma esquadria com uma irmã minha na mão de moto-táxi. Não posso fazer juízo de valor, e só cabe a você que me usa pensar bem, ó, você, cidadão de bem.

Se preparou para me dominar no ano que se inicia? E através de um sistema barato e prático para muitos, acabo disputando o protagonismo com outas questões. Não soluciono, mas é justamente onde há mais problemas que sou mais usada. E se em 2019 eu já havia sido frequente companheira, ajudando a mirar em alguns, pode ter certeza que vou fazer mais.

A culpa não é minha parceira. Estou a serviço dos outros, e não venha imputar em mim a culpa pela morte de uma criança de oito, confundindo uma esquadria com uma irmã minha na mão de moto-táxi. Não posso fazer juízo de valor, e só cabe a você que me usa pensar bem, ó, você, cidadão de bem.

Se preparou para me dominar no ano que se inicia? Se minha presença é "questão de livre arbítrio", como disse o Vice, tô pra jogo e não tá pouco. Eu não posso fazer nada se o pensamento não começa comigo.

O que eu só sei é que eu fui feita pra isso, e se prepare, hein? Posso acabar até com você que me apoia. Pá!


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